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Benefícios da Cetamina no Tratamento da Depressão

Dr Diego de Castro Neurologia
Autor: 
Dr. Diego de Castro dos Santos

CRM-SP 160074 / CRM-ES 11.111
Neurofisiologia clínica - RQE 74154
Neurologia - RQE 74153.
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Segundo a Mayo Clinic, a depressão é um transtorno mental que causa sofrimento, perda de qualidade de vida e, em casos graves, risco de suicídio. Às vezes, o tratamento com antidepressivos não é suficiente para aliviar os sintomas e restaurar o bem-estar do paciente. Nesses casos, chamados de depressão resistente ou refratária, uma alternativa que tem se mostrado promissora é o uso da cetamina (também chamada de quetamina).

A cetamina é um fármaco que existe há mais de 50 anos e é utilizado como anestésico em diversos procedimentos médicos. Estudos recentes têm demonstrado que, em doses muito menores do que as usadas para anestesia, pode ter um efeito antidepressivo rápido e duradouro em pacientes com depressão resistente.

Neste artigo, Dr Diego de Castro, Neurologista e Neurofisiologista pela USP, explica sobre o uso da cetamina no tratamento da depressão grave e resistente a medicamentos.

História e Evolução do Uso da Cetamina

De acordo com a Alcohol and Drug Foundation, a cetamina é um anestésico que foi sintetizado pela primeira vez em 1962. Foi aprovada pelo FDA em 1970 e rapidamente se tornou um anestésico amplamente utilizado no campo de batalha durante a guerra do Vietnã. A cetamina ficou conhecida como a "droga amiga", pois podia ser administrada a um soldado ferido para aliviar a dor sem o risco de depressão respiratória, que era comum com os opioides como a morfina.

Como a cetamina pode induzir um estado de transe, alucinações, euforia e despersonalização, começou a ser explorada como uma droga recreativa e passou a ser conhecida como uma substância de abuso.

Foi a partir da década de 1990 que começou a ser estudada como um potencial antidepressivo, especialmente para casos de depressão resistente aos antidepressivos.

Mecanismo de Ação da Cetamina na Depressão

Artigo publicado no Indian Journal of Psychiatry explica que o mecanismo de ação da cetamina na depressão envolve vários processos neuroquímicos que afetam o sistema glutamatérgico, o principal sistema excitatório do cérebro.

A cetamina atua como um antagonista do receptor NMDA, um tipo de receptor de glutamato que regula a formação de novos neurônios e de ligações entre eles (processos conhecidos como neurogênese e plasticidade sináptica).

Ao bloquear esse receptor, a cetamina aumenta a liberação de glutamato em outras regiões do cérebro, o que favorece:

  • O crescimento e a sobrevivência de novos neurônios e sinapses
  • A reversão dos efeitos da depressão crônica sobre a estrutura e a função cerebral.

Além disso, a cetamina modula outros sistemas neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina, que estão envolvidos na regulação do humor, da motivação e da recompensa, potencializando os efeitos dos antidepressivos convencionais que atuam nesse sistema.

O impacto da cetamina na modulação destes neurotransmissores está associado à redução dos sintomas depressivos em curto prazo. Diferentemente dos antidepressivos convencionais, que demoram semanas ou meses para fazer efeito, a cetamina produz uma melhora significativa do humor em horas ou dias após uma única infusão intravenosa.

quando a cetamina é indicada para tratar depressão
O tratamento com Cetamina é indicado quando os sintomas depressivos persistem, apesar do uso dos medicamentos antidepressivos

Como o Tratamento com Cetamina é Realizado

Conforme informações da University of Utah Health, existem diferentes métodos de administração da cetamina, sendo o mais comum e estudado o intravenoso. Nesse método, a cetamina é infundida diretamente na veia do paciente.

Outros métodos de administração são:

  • Intranasal, que consiste em aplicar um spray de cetamina nas narinas do paciente
  • Oral, que envolve a ingestão de comprimidos ou cápsulas de cetamina.

Esses métodos são menos invasivos e mais práticos do que o intravenoso, mas também menos eficazes e mais sujeitos a variações nos efeitos.

A dosagem adequada da cetamina depende de fatores, como:

  • O peso do paciente
  • Método de administração
  • Tolerância individual
  • Resposta do paciente ao tratamento.

O ajuste da dose deve ser feito pelo médico responsável pelo tratamento, levando em conta os riscos e benefícios de cada caso.

O número de sessões varia de acordo com o objetivo e a evolução do paciente. Em geral, recomenda-se realizar uma série inicial de 8 a 12 infusões semanais, para induzir uma remissão dos sintomas depressivos.

Após essa fase inicial, pode-se fazer um tratamento de manutenção com infusões menos frequentes para prevenir recaídas. O intervalo entre estas sessões deve ser determinado pelo médico, com base na resposta clínica e na tolerabilidade do paciente.

Cuidados e Recomendações Durante o Tratamento

A Harvard Medical School orienta que a infusão de cetamina pode causar reações adversas durante a sessão, por exemplo:

  • Sonolência
  • Alucinações
  • Náuseas
  • Aumento da pressão arterial
  • Aumento da frequência cardíaca.

Por isso, é importante que a administração da cetamina seja feita em um ambiente médico controlado, onde o paciente possa ser monitorado constantemente quanto a seus sinais vitais e estado emocional. Assim, é possível ajustar a dose e a duração da infusão de acordo com a resposta individual e evitar complicações.

Além disso, o profissional responsável pela administração de cetamina deve estar preparado para intervir em caso de emergência e orientar o paciente sobre os cuidados pós-sessão, como evitar dirigir ou consumir álcool ou outras drogas.

Benefícios e Resultados do Tratamento com Cetamina

Estudos clínicos têm mostrado que a cetamina pode reduzir rapidamente os sintomas depressivos e o risco de suicídio em pacientes que não respondem aos medicamentos antidepressivos.

A Yale Medicine afirma que a cetamina pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes com depressão, aliviando o sofrimento emocional, restaurando o funcionamento cognitivo e social, e aumentando a esperança e a motivação. Além disso, a cetamina pode prevenir suicídios em pacientes com depressão grave.

Apesar de observarmos tantos resultados positivos, é importante compreender que a cetamina não é uma solução mágica ou isolada para a depressão. Ela deve ser usada como parte integrante de abordagens multidisciplinares como:

  • Psicoterapia
  • Psicoeducação
  • Atividade física
  • Suporte social.

Além disso, o acompanhamento médico rigoroso é fundamental para evitar complicações.

As perspectivas futuras para o tratamento com cetamina são promissoras. A cada dia, novas pesquisas estão sendo realizadas para entender melhor os mecanismos de ação e otimizar as formas de administração, dosagem e frequência do tratamento. A esperança é que a cetamina possa contribuir para um maior avanço na medicina psiquiátrica.

Se você vem enfrentando sintomas de depressão, uma avaliação neurológica pode ajudar no diagnóstico adequado, buscando identificar se existe alguma causa neurológica para os sintomas e indicando as possibilidades para o melhor tratamento do seu caso.

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Neurologia - Dr Diego de Castro
Dr Diego de Castro dos Santos é Neurologista pela USP e responsável pelo Serviço de Especialidades Neurológicas – Eletroneuromiografia. Atua como neurologista em Vitória Espírito Santo ES e em São Paulo no tratamento de Dor de Cabeça, Depressão, Doença de Parkinson, Miastenia gravis e outras doenças. Também se dedica a reabilitação de pacientes com AVC, distonias e crianças com paralisia cerebral, por meio de aplicação de toxina botulínica (Botox) e neuromodulação.
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