Segundo a Mayo Clinic, a depressão é um transtorno mental que causa sofrimento, perda de qualidade de vida e, em casos graves, risco de suicídio. Às vezes, o tratamento com antidepressivos não é suficiente para aliviar os sintomas e restaurar o bem-estar do paciente. Nesses casos, chamados de depressão resistente ou refratária, uma alternativa que tem se mostrado promissora é o uso da cetamina (também chamada de quetamina).
A cetamina é um fármaco que existe há mais de 50 anos e é utilizado como anestésico em diversos procedimentos médicos. Estudos recentes têm demonstrado que, em doses muito menores do que as usadas para anestesia, pode ter um efeito antidepressivo rápido e duradouro em pacientes com depressão resistente.
Neste artigo, Dr Diego de Castro, Neurologista e Neurofisiologista pela USP, explica sobre o uso da cetamina no tratamento da depressão grave e resistente a medicamentos.
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De acordo com a Alcohol and Drug Foundation, a cetamina é um anestésico que foi sintetizado pela primeira vez em 1962. Foi aprovada pelo FDA em 1970 e rapidamente se tornou um anestésico amplamente utilizado no campo de batalha durante a guerra do Vietnã. A cetamina ficou conhecida como a "droga amiga", pois podia ser administrada a um soldado ferido para aliviar a dor sem o risco de depressão respiratória, que era comum com os opioides como a morfina.
Como a cetamina pode induzir um estado de transe, alucinações, euforia e despersonalização, começou a ser explorada como uma droga recreativa e passou a ser conhecida como uma substância de abuso.
Foi a partir da década de 1990 que começou a ser estudada como um potencial antidepressivo, especialmente para casos de depressão resistente aos antidepressivos.
Artigo publicado no Indian Journal of Psychiatry explica que o mecanismo de ação da cetamina na depressão envolve vários processos neuroquímicos que afetam o sistema glutamatérgico, o principal sistema excitatório do cérebro.
A cetamina atua como um antagonista do receptor NMDA, um tipo de receptor de glutamato que regula a formação de novos neurônios e de ligações entre eles (processos conhecidos como neurogênese e plasticidade sináptica).
Ao bloquear esse receptor, a cetamina aumenta a liberação de glutamato em outras regiões do cérebro, o que favorece:
Além disso, a cetamina modula outros sistemas neurotransmissores, como a dopamina e a serotonina, que estão envolvidos na regulação do humor, da motivação e da recompensa, potencializando os efeitos dos antidepressivos convencionais que atuam nesse sistema.
O impacto da cetamina na modulação destes neurotransmissores está associado à redução dos sintomas depressivos em curto prazo. Diferentemente dos antidepressivos convencionais, que demoram semanas ou meses para fazer efeito, a cetamina produz uma melhora significativa do humor em horas ou dias após uma única infusão intravenosa.
Conforme informações da University of Utah Health, existem diferentes métodos de administração da cetamina, sendo o mais comum e estudado o intravenoso. Nesse método, a cetamina é infundida diretamente na veia do paciente.
Outros métodos de administração são:
Esses métodos são menos invasivos e mais práticos do que o intravenoso, mas também menos eficazes e mais sujeitos a variações nos efeitos.
A dosagem adequada da cetamina depende de fatores, como:
O ajuste da dose deve ser feito pelo médico responsável pelo tratamento, levando em conta os riscos e benefícios de cada caso.
O número de sessões varia de acordo com o objetivo e a evolução do paciente. Em geral, recomenda-se realizar uma série inicial de 8 a 12 infusões semanais, para induzir uma remissão dos sintomas depressivos.
Após essa fase inicial, pode-se fazer um tratamento de manutenção com infusões menos frequentes para prevenir recaídas. O intervalo entre estas sessões deve ser determinado pelo médico, com base na resposta clínica e na tolerabilidade do paciente.
A Harvard Medical School orienta que a infusão de cetamina pode causar reações adversas durante a sessão, por exemplo:
Por isso, é importante que a administração da cetamina seja feita em um ambiente médico controlado, onde o paciente possa ser monitorado constantemente quanto a seus sinais vitais e estado emocional. Assim, é possível ajustar a dose e a duração da infusão de acordo com a resposta individual e evitar complicações.
Além disso, o profissional responsável pela administração de cetamina deve estar preparado para intervir em caso de emergência e orientar o paciente sobre os cuidados pós-sessão, como evitar dirigir ou consumir álcool ou outras drogas.
Estudos clínicos têm mostrado que a cetamina pode reduzir rapidamente os sintomas depressivos e o risco de suicídio em pacientes que não respondem aos medicamentos antidepressivos.
A Yale Medicine afirma que a cetamina pode melhorar significativamente a qualidade de vida dos pacientes com depressão, aliviando o sofrimento emocional, restaurando o funcionamento cognitivo e social, e aumentando a esperança e a motivação. Além disso, a cetamina pode prevenir suicídios em pacientes com depressão grave.
Apesar de observarmos tantos resultados positivos, é importante compreender que a cetamina não é uma solução mágica ou isolada para a depressão. Ela deve ser usada como parte integrante de abordagens multidisciplinares como:
Além disso, o acompanhamento médico rigoroso é fundamental para evitar complicações.
As perspectivas futuras para o tratamento com cetamina são promissoras. A cada dia, novas pesquisas estão sendo realizadas para entender melhor os mecanismos de ação e otimizar as formas de administração, dosagem e frequência do tratamento. A esperança é que a cetamina possa contribuir para um maior avanço na medicina psiquiátrica.
Se você vem enfrentando sintomas de depressão, uma avaliação neurológica pode ajudar no diagnóstico adequado, buscando identificar se existe alguma causa neurológica para os sintomas e indicando as possibilidades para o melhor tratamento do seu caso.
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