Segundo a Mayo Clinic, muitos pacientes recuperados da COVID-19 continuam a exibir déficits cognitivos significativos e duradouros na memória, atenção, compreensão da linguagem e multitarefa, bem como fadiga. Esses sintomas podem persistir por muitas semanas a meses após os primeiros sintomas da infecção terem diminuído.
"Névoa cerebral" tem sido um termo utilizado para descrever esses sintomas.
Neste artigo, Dr Diego de Castro, Neurologista e Neurofisiologista pela USP, explica sobre os problemas de memória após a COVID-19 e como eles podem ser tratados.
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A névoa cerebral, um termo usado para descrever o pensamento lento ou dificultado, pode ocorrer em muitas circunstâncias diferentes - por exemplo, quando alguém está privado de sono ou se sentindo mal, ou devido a efeitos colaterais de medicamentos que causam sonolência. A névoa cerebral também pode ocorrer após quimioterapia ou uma concussão.
Em muitos casos, a névoa cerebral é temporária e melhora por conta própria. No entanto, nós realmente não entendemos por que a névoa do cérebro acontece após COVID-19, ou quanto tempo esses sintomas provavelmente duram. Mas sabemos que essa forma de névoa cerebral pode afetar diferentes aspectos da cognição.
De acordo com artigo publicado na Neurology, a cognição refere-se a processos no cérebro que usamos para:
O comprometimento cognitivo é uma redução na sua capacidade de realizar uma ou mais destas habilidades.
Entre as pessoas que foram hospitalizadas por COVID, uma ampla gama de problemas com a cognição foram relatados. Eles incluem dificuldades com:
Esses problemas podem ser observados tanto em pessoas que não foram hospitalizadas com Covid quanto naquelas que foram, bem como em pessoas que tiveram casos graves.
Os pesquisadores ainda estão trabalhando para entender quais mecanismos estão impulsionando o desenvolvimento destes sintomas. A melhor hipótese, até o momento, é que envolva uma superativação do sistema imunológico, resultando em inflamação generalizada no corpo.
A Covid também pode levar a danos vasculares devido à baixa disfunção elétrica de oxigênio e desequilíbrio de neurotransmissores.
A American Medical Association explica que o tratamento para os sintomas relacionados ao cérebro pode ser desafiador. É preciso tentar reverter o que pode ser revertido, tentar diminuir a inflamação que o paciente possa ter e se certificar de descartar algo (mais) que poderia estar acontecendo com o cérebro.
É importante tratar quaisquer outros sintomas - como dor de cabeça ou sono ruim - que também possa estar contribuindo.
Para orientar o tratamento, os pacientes podem ser encaminhados para uma avaliação neuropsicológica para que realizar testes realmente aprofundados que identificam sua velocidade de processamento cerebral. E então podemos enviá-los para um programa de reabilitação neurocognitiva.
A intervenção terapêutica utilizando estimulação magnética transcraniana repetitiva (EMTr) apresentou bons resultados no tratamento da a fadiga crônica associada à COVID longa e a disfunção cognitiva (névoa cerebral), segundo artigo publicado na Progress in Rehabilitation Medicine.
EMTr é uma estimulação cerebral não invasiva que altera a atividade neural local no cérebro usando um campo magnético de uma bobina colocada na superfície da cabeça. Este tratamento também é eficaz no tratamento das complicações do AVC, fibromialgia, depressão, entre outras condições.
Ainda não podemos prever por quanto tempo a névoa cerebral pós-COVID persistirá, mas em muitos casos, observamos que o sintoma se dispersa por conta própria. E embora muitos pacientes tenham sintomas que perduram por meses, a gravidade dos problemas que as pessoas experimentam diminui com o tempo.
Pesquisas estão em andamento para rastrear os sintomas das pessoas ao longo do tempo, bem como para identificar as causas biológicas desses sintomas cerebrais.
À medida que aprendemos mais, podemos encontrar terapias que possam ajudar as pessoas a melhorar mais rápido.
Dr Diego de Castro é Neurologista pela USP e se dedica integralmente ao universo do diagnóstico e assistência.
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