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Diagnóstico e Tratamento da Síndrome de Guillain-Barré

Dr Diego de Castro Neurologia
Autor: 
Dr. Diego de Castro dos Santos

CRM-SP 160074 / CRM-ES 11.111
Neurofisiologia clínica - RQE 74154
Neurologia - RQE 74153.
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O diagnóstico da Síndrome de Guillain-Barré se baseia na história clínica e no exame neurológico e o tratamento da Síndrome de Guillain-Barré (SGB) deve ser realizado precocemente, uma vez que estamos tratando de uma emergência médica.

Na fase inicial, várias doenças podem ser confundidas com Guillain-Barré. O diagnóstico precoce e o tratamento hospitalar da síndrome diminuem a chance de sequelas e favorecem a boa evolução a longo prazo.

Neste artigo, Dr Diego de Castro Neurologista e Neurofisiologista pela USP, explica sobre o diagnóstico da síndrome de Guillain-Barré e as formas de tratamento indicadas.

Diagnóstico da Síndrome de Guillain-Barré

O diagnóstico da Síndrome de Guillain-Barré baseia-se na história clínica e exame neurológico. Os exames complementares também são importantes e servem para diagnosticar os subtipos de Guillain-Barré ou outras doenças que estejam desencadeando a síndrome.

Seguindo o protocolo utilizado na Mayo Clinic, de acordo com a história e apresentação do paciente, podemos utilizar os seguintes exames para o diagnóstico de Guillain-Barré:

  1. Exames laboratoriais
  2. Eletroneuromiografia
  3. Liquor
  4. Exames de Imagem
  5. Teste de Função Pulmonar

Exames Laboratoriais

Em geral, todos os pacientes com suspeita de SGB devem realizar exames laboratorias gerais, como: hemograma completo e exames de sangue para glicose, eletrólitos, função renal e enzimas hepáticas. Os resultados desses exames ajudam a excluir outras causas de paralisia flácida aguda, como infecções, disfunções metabólicas ou eletrolíticas.

Exames específicos adicionais podem ser realizados para excluir a possibilidade de outras doenças que podem imitar a SGB. Testes para infecções anteriores também podem fornecer informações importantes.

Segundo pesquisa da Revista Nature, algumas doenças estão fortemente associadas a Síndrome de Guillain-Barré e podem ser excluídas por meio dos exames laboratoriais. São elas:

  • Dengue
  • Chikunguya
  • Zika
  • Infecções pulmonares por Mycoplasma
  • Infecções intestinais por Campylobacter
  • Lupus e Sjogren
  • Paraproteinemias, linfomas e leucemias

Leia nosso texto completo onde abordamos mais sobre as causas do Guillain-Barré.

Exame de Eletroneuromiografia no Diagnóstico da Síndrome de Guillain-Barré

O exame de eletroneuromiografia (ENMG ou EMG) é o exame mais importante para o diagnóstico da Síndrome de Guillain-Barré. A eletroneuromiografia é um exame neurofisiológico para avaliar nervos e músculos e é subdividido em 2 etapas: estudo da condução nervosa e o estudo por agulha.

Além disso, a eletroneuromiografia pode determinar de que maneira a Síndrome de Guillain Barré está afetando os nervos, o subtipo e o prognóstico da doença.

O exame de eletroneuromiografia na Síndrome de Guillain-Barré pode evidenciar alterações do tipo:

  • Desmielinização (lesão na capa que envolve os nervos periféricos)
  • Lesão axonal (lesão direta aos prolongamentos dos neurônios dos nervos periféricos)
  • Comprometimento inflamatório dos nervos motores, sensitivos ou de ambos (polineurite)
  • Comprometimento inflamatório de múltiplas raízes nervosas (radiculoneurite)

As alterações da eletroneuromiografia na Síndrome de Guillain-Barré geralmente começam a surgir com 07 dias, mas podem demorar até 3 semanas para se tornarem completamente evidentes.

Casos muito graves, com comprometimento dos músculos da respiração na fase inicial, podem demonstrar alterações na eletroneuromiografia com cerca de 03 dias, mas são exceção.

Por esse motivo, é comum pacientes realizarem a eletroneuromiografia na fase inicial e o exame vir normal. Esses pacientes devem repetir o exame com cerca de 2 a 3 semanas, tempo necessário para as alterações serem identificadas.

Neste vídeo saiba mais sobre os princípios gerais do exame de eletroneuromiografia:

Exame de Líquido Cefalorraquidiano (Líquor ou LCR) no Diagnóstico do Guillain-Barré

A punção lombar para estudos do líquido cefalorraquidiano (líquor ou LCR) é sempre recomendada no diagnóstico da Síndrome de Guillain-Barré. Ela serve principalmente para descartar outras causas de fraqueza e deve ser realizada durante a avaliação inicial do paciente.

  • O líquor apresenta uma elevação de proteínas totais
  • Os glóbulos brancos ficam normais (achado clássico conhecido como dissociação albumino-citológica).
  • Níveis normais de proteína no LCR não descartam o diagnóstico de SGB (pode ocorrer em 30 a 50% dos pacientes na primeira semana) 

Você não precisa ter medo de realizar esse exame. A punção lombar é um procedimento seguro, de fácil realização e que não precisa de anestesia.

Exames de Imagem

Estudos de imagem, como tomografia e ressonância magnética (RM) da medula podem ser úteis na exclusão de outros diagnósticos como:

  • AVC
  • Mielites
  • Mieloradiculites
  • Romboencefalites
  • Outras infecção no tronco cerebral e sistema nervoso

A ultrassonografia dos nervos periféricos pode colaborar com o diagnóstico de Síndrome de Guillain-Barré, demonstrando a gravidade da inflamação da raiz nervosa no início do curso da doença.

A ressonância magnética da coluna total também pode evidenciar captação anormal de contraste e espessamento das raízes nervosas em alguns pacientes. No entanto, esses exames não são superiores a eletroneuromiografia.

Testes de Função Pulmonar

Falta de ar é um sinal de gravidade no Guillain-Barré e requer observação em UTI. Testes de função pulmonar são medidas da função respiratória neuromuscular e predizem a força do diafragma e do do músculo abdominal.

Avaliações frequentes desses parâmetros devem ser realizadas para monitorar o estado respiratório e a necessidade de assistência ventilatória mecânica (aparelho de respiração). Ver abaixo sobre ventilação mecânica.

Tratamento da Síndrome de Guillain-Barré

O tratamento da Síndrome de Guillain-Barré envolve:

  1. Cuidados de suporte
  2. UTI para casos graves
  3. Terapia imunomoduladora com Imunoglobulina ou Plasmaférese
  4. Tratamento da Dor e utras complicações
  5. Reabilitação neurológica a longo prazo

Pacientes que demoram mais de 14 dias para procurar ajuda médica ou tem uma evolução lenta, não se beneficiam muito da terapia imunomoduladora. O próprio organismo já está controlando os danos causados pela doença.

Com menos de 14 dias de evolução, os pacientes com SGB podem precisar ser internados em um hospital para observação cuidadosa. A profilaxia para trombose venosa profunda deve ser fornecida, devido à imobilidade que pode ocorrer por alguma semanas.

Flutuações da pressão arterial, da frequência cardíaca e sinais clínicos de insuficiência respiratória devem ser monitorados, assim como sinais clínicos de dificuldade de urinar e de evacuar. Se algum desses sinais for detectado, o paciente deve ser imediatamente transferido para centros médicos especializados (UTI).

Tratamento da Síndrome de Guillain-Barré com Imunoglobulina

Pesquisas da Erasmus MC em Rotterdam demonstram que a imunoglobulina é um dos tratamentos mais utilizados no mundo para SGB.

  • A imunoglobulina neutraliza os anticorpos circulantes que estão atacando os nervos interrompendo a progressão do processo inflamatório e da lesão neurológica.
  • A imunoglobulina é administrada endovenosa uma vez ao dia por cinco dias em regime hospitalar.
  • O tratamento está disponível no SUS e é de cobertura obrigatória pelos planos de Saúde. Estima-se que o custo total desse tratamento é de cerca de 25.000 reais.

Tratamento da Síndrome de Guillain-Barré com Plasmaférese

Tanto a plasmaférese quanto a imunoglobulina são igualmente eficientes para o tratamento da Síndrome de Guillain-Barré. A escolha entre um tratamento e outro varia da disponibilidade nos diversos hospitais do Brasil.

  • A plasmaférese consiste na filtragem do sangue para retirada dos anticorpos que causam a SGB.
  • Para sua realização é necessária a passagem de um cateter especial por uma veia mais profunda.
  • São necessárias cerca de 4 a 6 sessões para o adequado tratamento da SGB.
tratamento da Síndrome de Guillain-Barré

Quando é Necessária a Ventilação Mecânica

Pacientes com intensa dificuldade de engolir e falta de ar, demonstram uma função pulmonar prejudicada e necessitam de intubação para sua própria proteção. A reavaliação frequente com teste de função pulmonar é fundamental. Fatores adicionais que indicam a necessidade de ventilação mecânica incluem:

  • tempo de início da SGB até a internação hospitalar por menos de sete dias;
  • incapacidade de levantar os cotovelos ou a cabeça acima da cama;
  • incapacidade de ficar em pé;
  • tosse ineficaz;
  • aumento dos níveis de enzimas hepáticas.

Tratamento da Dor e do Estresse

  • Dor e estresse psicológico devem ser tratados. Os pacientes tornam-se fisicamente imobilizados ​​pela doença, mas mentalmente alertas e com medo.
  • A fisioterapia, incluindo massagem suave, exercícios passivos de amplitude de movimento e mudanças frequentes de posição, pode proporcionar alívio da dor.
  • Os medicamentos carbamazepina, gabapentina e pregabalina têm sido utilizados como adjuvantes no tratamento da dor na SGB. Os pacientes tratados com esses medicamentos necessitam de menos analgesia narcótica com menos efeitos colaterais e sedação mínima.

Reabilitação e Recuperação

Tanto a imunoglobulina quanto a plasmaferese interrompem o processo inflamatório, mas não regeneram os nervos já lesados. Para isso é necessário reabilitação intensiva.

  • Os programas de fisioterapia visam reduzir déficits funcionais e deficiências resultantes da SGB.
  • A reabilitação de um paciente com Guillain-Barré é o processo longo que pode demorar de 6 meses a 3 anos e o mais importante é nunca desistir. Os resultados podem ser lentos e é necessário persistência e apoio familiar.
  • No início da fase aguda, os pacientes se beneficiam de alongamento e posicionamento adequado para evitar encurtamentos musculares e contraturas articulares.
  • O fortalecimento muscular ativo pode ser introduzido lentamente. A intensidade do programa de exercícios também deve ser monitorada, porque o excesso de atividade nos músculos pode levar ao aumento da fraqueza.

Monitoramento e Gerenciamento de Complicações

Uma grande porcentagem de pacientes continua a ter problemas relacionados à fadiga. As sugestões de tratamento variam de exercícios leves a melhorias no sono e alívio da dor ou depressão, se houver.

Algumas complicações da Síndrome de Guillain-Barré incluem:

  • Dificuldade de engolir com segurança;
  • Pneumonia por aspiração;
  • Ulceração da córnea quando há paralisia facial;
  • Contraturas de membros, ossificação e paralisia por pressão em pacientes com fraqueza de membros.
  • Dor, alucinações, ansiedade e depressão também são frequentes em pacientes com SGB.

Os pacientes com SGB, mesmo aqueles com paralisia completa, permanecem com a consciência, visão e audição intactas. Esteja atento ao que é dito ao lado da cama e peça à equipe para explicar tudo ao paciente, para reduzir sua ansiedade.

A maioria dos pacientes apresentam boa recuperação. Cerca de 40% dos pacientes não melhoram nas primeiras 4 semanas após o tratamento. Isto não quer dizer que o tratamento seja ineficaz. Na realidade, a progressão poderia ter sido pior sem o tratamento. Nestes casos, podemos considerar a possibilidade de repetir a imunoglobulina/plasmaférese para tratamento da Síndrome de Guillain-Barré.

Referências

Dr Diego de Castro Neurologista & Neurofisiologista

Dr Diego de Castro cuida de pacientes com diversas doenças neurológicas incluindo polineuropatias agudas, doenças raras e realiza o exame de eletroneuromiografia SP e eletroneuromiografia em Vitória ES. Também realiza avaliação hospitalar em pacientes internados para orientar adequado diagnóstico e tratamento da Síndrome de Guillain-Barré.

Estamos disponíveis para cuidar de você nos endereços:

Avenida Américo Buaiz, 501 – Ed. Victória Office Tower Leste, Sala 109 - Enseada do Suá, Vitória - ES, 29050-911

Tel: (27) 99707-3433

R. Itapeva, 518 - sala 901 Bela Vista - São Paulo - SP, CEP: 01332-904

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Dr Diego de Castro dos Santos
Neurologia - Dr Diego de Castro
Dr Diego de Castro dos Santos é Neurologista pela USP e responsável pelo Serviço de Especialidades Neurológicas – Eletroneuromiografia. Atua como neurologista em Vitória Espírito Santo ES e em São Paulo no tratamento de Dor de Cabeça, Depressão, Doença de Parkinson, Miastenia gravis e outras doenças. Também se dedica a reabilitação de pacientes com AVC, distonias e crianças com paralisia cerebral, por meio de aplicação de toxina botulínica (Botox) e neuromodulação.

4 comments on “Diagnóstico e Tratamento da Síndrome de Guillain-Barré”

  1. Doutor gostaria de saber quantos tempo leva uma pessoa para recuperações que está enternada e uti e gostaria de saber quantos dias vai sair da uti

  2. Parabéns doutor Diego, tirei todas minhas dúvidas clínicas quanto ao Guillain Barre neste artigo. Hoje inicio os cuidados com um paciente nesta condição, sou terapeuta ocupacional, e essas informações me ajudaram muito a montar minha anamnese.

    1. Que legal! Esse retorno é muito gratificante! Bom saber que irá reabilitar um paciente com Guillain-Barré de forma ainda mais efetiva. Abraço

  3. Meu marido foi diagnóstico com a sindrome guillan barre , fiz todos exames .ele esta com dormência nas oernas e diculdade para anda .mas o neuro q acompanhou ele nao nós clereceu se ele vai precisar de um tratamento .tem mas de 1 ano com os sintomas e foi diagnósticado agora , ele precisa de um tratamento ou nao !

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