A gravidez é, sem dúvida, um período de transformações intensas. Seu corpo está criando uma vida, seus hormônios estão em uma montanha-russa e o cansaço bate mais forte. Você espera lidar com enjoos ou dores nas costas, mas ninguém te avisou sobre aquela sensação estranha nas pernas na hora de dormir. Uma agonia, uma "coceira interna", uma vontade incontrolável de chutar ou caminhar quando tudo o que você mais quer é descansar.
A RLS-UK explica que a Síndrome das Pernas Inquietas (SPI) é extremamente comum na gestação, afetando cerca de uma em cada cinco grávidas, especialmente no terceiro trimestre. E o mais importante: isso não significa que você terá o problema para sempre.
Neste artigo, Dr Diego de Castro Neurologista e Neurofisiologista pela USP explica por que a SPI aparece durante a gravidez, quais são as opções seguras de tratamento para o bebê e para a mãe, e dicas práticas para aliviar os sintomas e conseguir dormir.
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Na maioria das vezes, o que acontece na gravidez é uma "tempestade" de fatores temporários que desencadeiam a síndrome. Segundo artigo publicado no periódico Sleep, existem três causas principais para esse desconforto noturno:
Aqui entramos em um terreno delicado. Se você pesquisar na internet, verá nomes de remédios como gabapentina ou pramipexol. Cuidado. A maioria dos medicamentos clássicos para SPI não é recomendada durante a gravidez, pois podem oferecer riscos ao desenvolvimento fetal ou não têm estudos de segurança suficientes.
A abordagem com a gestante precisa ser conservadora e focada na causa raiz. Nosso objetivo é alívio com segurança máxima:
Antes de pensar em qualquer remédio para "acalmar os nervos", nós investigamos a ferritina. Em gestantes com SPI, é comum encontrarmos estoques baixos. A suplementação de ferro é segura e, muitas vezes, curativa.
Como evitamos remédios fortes, apostamos todas as fichas em mudanças de hábito e terapias físicas. E elas ajudam, sim, a reduzir a intensidade da agonia. O NHS recomenda as seguintes práticas:
Ainda nas páginas do periódico Sleep, pesquisadores alertaram que nem todas as gestantes com SPI têm ferritina baixa, e outros fatores também podem estar envolvidos. E que também existem casos raros e severos onde a gestante simplesmente não dorme, o que também é perigoso para a saúde dela e do bebê (risco de pressão alta, depressão pós-parto, etc.).
Nesses cenários extremos, o neurologista pode avaliar, caso a caso, o uso de medicamentos em doses baixíssimas, escolhendo aqueles com menor risco conhecido e sempre em diálogo com o seu obstetra.
Nunca se automedique. O que funcionou para sua amiga que não está grávida pode ser perigoso para você.
Realmente, as noites podem parecer mais longas agora, mas a Síndrome das Pernas Inquietas desencadeada pela gravidez costuma ter data para acabar. Para a maioria das mulheres, os sintomas desaparecem após o parto ou nas primeiras semanas de amamentação, à medida que os hormônios se estabilizam e o corpo recupera sua fisiologia normal.
Algumas mulheres podem continuar com sintomas por períodos mais longos, especialmente se houver predisposição genética ou outros fatores. Nesses casos, o acompanhamento com o neurologista é fundamental para investigar outras causas e buscar um tratamento eficaz.
A síndrome das pernas inquietas (SPI) é um distúrbio do sono comum que pode estar associado à gravidez. Entre as principais causas, há um forte histórico familiar, baixo nível de ferro e ferritina sérico, e alto nível de estrogênio durante a gravidez. O tratamento da SPI durante a gravidez é desafiador, mas pode trazer resultados satisfatórios sem prejudicar o feto.
Neste momento tão único, o seu sono é precioso. Ele serve para repor as energias e para sonhar com o futuro que está chegando. Não deixe que a Síndrome das Pernas Inquietas roube a alegria de planejar o enxoval ou de imaginar o sorriso do seu filho.
Se os sintomas estão tirando o seu sono, converse com seu obstetra e procure um neurologista especializado. Um simples exame de sangue para checar seu ferro pode ser a chave para devolver a tranquilidade das suas noites, permitindo que você descanse e se prepare para a chegada do seu bebê com a saúde e a energia que esse momento merece.
Referências
Dr Diego de Castro é Neurologista pela USP e cuida de pacientes com problemas do sono e outras condições neurológicas.
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