Provavelmente, você já ouviu alguém mencionar o tratamento com canabidiol (CBD), especialmente se você vive com uma condição crônica como dor, Parkinson ou ansiedade.
À medida que a cannabis medicinal e recreativa começa a ser legalizada, o mercado vem desfrutando de uma grande publicidade em torno do CBD. No entanto, ainda existe muita dúvida em relação ao que é o CBD, como ele pode ajudar no tratamento de algumas doenças, e até mesmo se seu uso é realmente legal.
Neste artigo, Dr Diego de Castro, Neurologista e Neurofisiologista pela USP, explica sobre o uso do CBD e esclarece alguns dos equívocos comuns em torno desse novo medicamento.
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Algo importante a esclarecer é a diferença entre a cannabis sativa e o canabidiol. Na realidade, canabidiol não é maconha, ele é um dos compostos encontrados na folha desta planta.
Segundo a Premier Neurology, existem mais de 100 produtos químicos encontrados na planta da maconha. No entanto, os produtos químicos mais usados para uso médico são delta-9-tetrahidrocanabinol (THC) e o canabidiol (CBD).
Embora o THC seja conhecido por produzir os efeitos alucinógenos associados ao uso de maconha, o CBD tem pouco ou nenhum efeito psicoativo.
Atualmente, já é possível reproduzir em laboratório a molécula do canabidiol. Ao invés de extrair o canabidiol da planta cannabis, podemos desenvolver sinteticamente só o canabidiol, que é a substância ativa de interesse. Um artigo publicado na International Journal of Medical Sciences, por exemplo, aborda diversos aspectos relacionados aos canabinoides sintéticos.
Conforme artigo publicado no Journal of Neurology & Neuromedicine, uma das razões pelas quais o canabidiol é tão eficaz no tratamento de uma variedade de condições é porque sua estrutura química é semelhante a produtos químicos encontrados em nosso corpo, que ajudam a modular apetite, memória, movimento e dor.
Em nosso organismo, já temos diversos receptores para substâncias canabinoides. Existem diversos tipos de receptores: C1, C2, etc, com uma distribuição variada em nossas células e órgãos.
Todos nós temos esses receptores, eles são endógenos, já nascemos com eles. Nós também produzimos endocanabinoides, as substâncias que se ligam a esses receptores. Sua produção é regular, mas cada pessoa produz em um ritmo diferenciado: algumas pessoas produzem um pouco a menos e outras produzem um pouco a mais.
"Podemos dizer que é semelhante à serotonina. Algumas pessoas produzem menos serotonina. E por isso elas são mais depressivas."
Existem os receptores centrais, em regiões mais específicas do cérebro. E também temos os receptores periféricos, que se localizam nos músculos e também em outros órgãos.
Quando utilizamos o canabidiol, tanto de forma recreativa, como de forma medicamentosa, ele se liga aos receptores nesses órgãos alvo e estimula os neurônios, modulando atividades relacionadas a humor e movimento.
Segundo a Revista Science Direct, a ação de uma substância sobre seu receptor é semelhante a uma chave e sua fechadura. Eles se encaixam perfeitamente e quando isso acontece, gera um evento neurofisiológico em nosso sistema nervoso. Por exemplo, modulando vias de dor, vias de movimento, ou de humor.
A base científica para a ação do canabinol no tratamento das doenças neurológicas foi a descrição do sistema endocanabinoide. A partir do momento em que conseguimos perceber que nosso próprio organismo produz uma substância semelhante ao canabidiol, desencadeando uma série de eventos neurológicos, foi possível compreender que essa substância pode ser um fármaco promissor para determinadas condições neurológicas.
Nem todos que "fumam maconha" apresentam os mesmos efeitos neurológicos. Isso acontece porque existe uma variação na composição da maconha, já que existem diversas espécies da planta e combinações diferentes de substâncias em cada uma dessas espécies.
Algumas espécies de maconha têm um índice alto de canabidiol. Mas também existem outras espécies de maconha que possuem um THC mais elevado.
Atualmente, estamos estudando mais profundamente a combinação de substâncias presentes na planta. Por exemplo, uma boa espécie de canabis, para a Medicina, tem em torno de 40% de canabidiol. E se a planta possui apenas 0,2 % de THC, já é suficiente para desenvolver efeitos colaterais.
A polêmica existente em torno do canabidiol para nós neurologistas atualmente não é só a evidência de em que usar e quando usar. Precisamos também nos preocupar em como foi feita a extração do canabidiol, em nível de pureza, para padronizar a quantidade de canabidiol que o paciente está recebendo.
Um estudo publicado no periódico Molecules, por exemplo, foi realizado para avaliar a qualidade de 14 óleos CBD comercialmente disponíveis nos países europeus. Seus resultados destacaram uma ampla variabilidade no perfil dos canabinóides, que justifica a necessidade de regulamentações rigorosas e padronizadas.
Canabidiol é um tema muito polêmico, em que ainda não existem verdades absolutas. Há muita expectativa e alguns resultados reais nas pesquisas que já estão sendo realizadas.
Na USP Ribeirão Preto, o canabidiol já é estudado desde a década de 70, aproximadamente, na área da Psiquiatria, especialmente para tratamento da depressão refratária e esquizofrenia, em quadros bem mais graves, intratáveis.
Com os resultados obtidos nessa área, houve uma motivação em começar a pesquisar seus efeitos nas doenças neurológicas.
Artigo publicado no Molecules aponta que o uso terapêutico de extratos de canabinoides já é prescrito:
Em nosso próximo artigo, vamos abordar em mais detalhes as evidências científicas que já existem sobre os efeitos do tratamento com canabidiol em diversas condições neurológicas. Continue acompanhando nosso blog e assine nossa newsletter, para não perder nenhum conteúdo.
Dr Diego de Castro é Neurologista e Neurofisiologista pela USP especialista em Doença de Parkinson e Distúrbios do Movimento. Também é membro da Academia Brasileira de Neurologia (ABN) e da Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Clínica (SBNC). Cuida de pacientes com Parkinson e condições neurológicas raras. Também disponibiliza informações para pacientes e familiares. Leia nossos artigos:
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