A palavra Sialorreia tem origem do grego "sialo" que significa "saliva" e "-reia" "fluxo". Assim, a sialorreia é uma condição de fluxo de saliva aumentado e também é conhecida como "salivação excessiva" ou "babar muito".
A sialorreia é um evento normal em crianças em fase de aleitamento. À medida que os indivíduos crescem, a sialorreia pode ocorrer transitoriamente diante de medicamentos ou infecções. Quando ela se torna contínua pode indicar doenças neurológicas.
Neste artigo, Dr Diego de Castro Neurologista da USP aborda o que é a sialorreia, suas causas e sintomas, com foco em doenças neurológicas.
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Popularmente, a sialorreia é conhecida como “babar muito, babação” ou “salivação excessiva”. Segundo a National Library of Medicine, nos bebês ela é um evento normal, associado ao amadurecimento das glândulas salivares. Nas crianças mais velhas, ela pode surgir transitoriamente durante a fase de dentição ou em infecções virais.
Nos adultos, alguns medicamentos e inflamação das glândulas salivares (sialadenite) podem aumentar a produção de saliva causando a sensação de "babação". Os sintomas melhoram com a retirada do medicamento ou resolução do evento inflamatório.
No entanto, é preciso estar atento a situações em que a sialorreia é causada por doenças neurológicas. Quando a sialorreia é contínua e por longo período, ela pode ocorrer por:
Muitas doenças neurológicas podem causar sialorreia. A condição tem grande impacto social na vida dos indivíduos.
Toda produção de saliva humana é feita pelas glândulas salivares. São 03 pares de glândulas situados em cada lado do corpo:
Todas as glândulas lançam a saliva para dentro da boca. Segundo pesquisa publicada no Intechopen, no total, um volume de 1,5 litros de saliva é produzido diariamente. As glândulas submandibulares e parótidas juntas produzem 80-90% desse volume total.
A saliva contém uma enzima denominada ptialina, importante para iniciar a digestão do amido. Ela também lubrifica a boca, facilitando o ato de engolir (deglutição).
Toda a produção de saliva é controlada pelo sistema nervoso. Por esse motivo, doenças neurológicas podem causar a sialorreia. Igualmente, todo o volume de saliva produzido precisa ser engolido constantemente. Assim, doenças neurológicas que causam problemas de deglutição também causam sialorreia.
Segundo pesquisa da American Family Physician, do ponto de vista neurológico, as causas da sialorreia são divididas em 02 grandes grupos:
A dificuldade de engolir compõe o grande responsável pela sialorreia nas doenças neurológicas. Para engolir, os indivíduos precisam do movimento adequado de músculos da língua, palato e faringe para finalmente a saliva alcançar o esôfago.
Esse fluxo de saliva da cavidade oral para o esôfago também depende de outros fatores como:
Assim sendo, qualquer condição que também afete um desses fatores também causa sialorreia.
Segundo pesquisa do Journal of Oral Pathology & Medicine, as consequências da sialorreia relacionam-se ao impacto na vida social, constrangimento, além dos riscos de desenvolvimento de outros problemas de saúde. Entenda:
Qualquer doença neurológica que afeta a produção ou depuração de saliva pode causar sialorreia. De modo geral, os pacientes que mais sofrem com a salivação excessiva são:
Discutimos abaixo essas principais condições:
De acordo com a American Academy of Cerebral Palsy, a sialorreia ocorre em aproximadamente 40% das crianças com paralisia cerebral. Há aumento de produção de saliva e o quadro é agravado por incoordenação muscular e dificuldades de percepção.
Neste grupo, a preocupação é relacionada principalmente a pneumonia aspirativa. Ao tratar a salivação excessiva, há diminuição do risco de pneumonia.
Segundo a Revista Nature, pacientes com Parkinson sofrem com o impacto social da sialorreia. Este pode ser um sintoma debilitante e constrangedor. Nas fases avançadas do Parkinson e em outras formas de Parkinsonismo, o quadro é agravado aumentando a chance de pneumonia aspirativa.
Como os pacientes com Parkinson já utilizam muitos medicamentos, o melhor tratamento para esses indivíduos é a aplicação de toxina botulínica (Botox).
Pesquisa da Revista Degenerative Neurological Neuromuscular Disease aponta que na Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), a sialorreia é um sintoma debilitante. Inclusive pode ser o primeiro sintoma da doença e se agravar com sua progressão. A salivação excessiva ocorre devido à espasticidade muscular, controle inadequado dos músculos do palato e língua além da perda de força muscular.
Medicamentos e a aplicação de toxina botulínica podem diminuir a salivação. No entanto, esses pacientes podem necessitar de constante aspiração da cavidade oral.
Algumas pesquisas apontam que a sialorreia pode acometer 25-65% dos pacientes na fase aguda do AVC. Ela geralmente acompanha dificuldade de fala e de deglutição. Pode melhorar muito com o tratamento fonoaudiológico.
Alguns pacientes podem persistir com o quadro. Nesse ponto, o excesso de saliva atrapalha a dicção e aumenta o risco de pneumonia. Essa é uma das condições com melhor resposta ao tratamento.
De acordo com a Revista ScienceDirect, o tratamento da sialorreia é realizado com uma equipe multidisciplinar e envolve uma série de abordagens, como:
Abordamos um artigo completo sobre o tratatamento da sialorreia, principalmente a importância da aplicação de toxina botulínica. Leia em: Tratamento da Salivação Excessiva com Aplicação de Toxina Botulínica em Glândulas Salivares.
Neste vídeo, você também pode saber mais informações sobre esta forma de tratamento:
Dr Diego de Castro é Neurologista da USP e cuida de pacientes com sialorreia.
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